O ano está terminando e é quase impossível não fazermos uma
reflexão do que fizemos, do que passamos, dos ganhos e das perdas, não é?
Mais uma vez, estou terminando um ano com o coração
apertadinho de tristeza e saudade ( saudade que dói e faz chorar muito ). Ano
passado, meu querido, amado e lindo irmão-amigo-companheiro partiu sem aviso
algum. Simplesmente foi embora ser feliz e nos deixou com o coração sangrando e
inconformado com a separação. Isso depois de apenas três anos que o outro irmão
tinha nos pregado a mesma peça. Chego a pensar que esses meninos não gostavam
de despedidas e resolveram partir assim, em um plim, como num passe de mágica.
Pra vocês terem uma ideia, minha família era composta por
dez pessoas (contando apenas os pais e filhos). Papys, mamys, três filhos e
cinco filhas. Meu papai foi o primeiro a
ir embora deste mundo cruel, em 1985. Sem "pedir autorização", partiu de repente,
deixando a família meio sem rumo. E, assim, fui aprendendo aos poucos, que devemos ficar mais perto de
quem amamos, abraçar mais e fazer por elas o que podemos enquanto estão junto
de nós.
No ano de 2000, um dos meninos ficou muito doente (bebia muito) e depois de
uma separação bastante complicada, foi embora. Pelo
menos, ele conseguiu nos avisar, mas é claro que, mesmo assim, o sofrimento pra
nós e, principalmente pra mamys, foi demais.
Sobrevivemos, graças a Deus, um ajudando o outro e todos
ajudando minha mãe. Conseguimos superar, mesmo porque, este meu irmão era muito
deprimido e sempre dizia que a maior vontade dele era ir embora daqui. Quando se foi, nos agarramos no
pensamento de que, enfim, ele devia estar sentindo a paz que tanto desejava.
Teve uma vida difícil, sempre lutou muito, trabalhou bastante e era muito
humilde, mas não gostava desta vida, e quando partiu estava com apenas 49
anos. Saudades? Demais! Era um irmão que gostava muito de bater papo e quando
bebia um pouco mais, desabafava e chorava muito.
Em 2009, depois de uma boa trégua, e mais unidos ainda, meu
irmão com 59 anos, despediu-se da vida, mas não de nós. Depois de ter vindo
visitar a família, pois ele morava em Santa Catarina, mas de três em três meses
estava aqui para ver nossa mãe e os irmãos, e dito à mamys que voltaria para o
aniversário dela, ele foi embora tão de repente, que ficamos sem chão por um
bom tempo. Minha mãe não se conformava e, muitas vezes, esperava-o e quando
percebia que ele não viria, ela sofria demais. Chorava muito e chorávamos juntos
com ela. Saudade esmagadora e silêncio apenas. Perguntas sem respostas.
Depois disso tudo, ficou nosso irmão caçula, que não deixava
de ir à casa de minha mãe um dia sequer. Todos os dias passava por lá, nem que
fosse só para dar um beijo e dizer que estava tudo bem. Nós, as irmãs, sempre
dizíamos pra ele se cuidar, pois ele agora era o único homem da família e
"deveria" cuidar de nós. Mas, como ele levava a vida numa boa, comia o que
gostava e achava que se comesse morreria e se não comesse, morreria também, então,
era melhor morrer satisfeito. Porém, a vida também não estava muito boa pra
ele, o casamento estava péssimo e ainda estava passando por um grande problema
com o filho dele. Porém, em momento algum, deixou meu sobrinho. Sempre
apoiando, fazendo o que tinha que ser feito, ajudando e, foi assim que, vendo o
filho modificando as atitudes, escolhendo o lado bom pra se viver, que os
dois viraram grandes amigos e, era uma
felicidade ver os dois se abraçando felizes. Sabíamos que ele nunca tinha se
conformado com a morte do meu irmão que vivia em Santa Catarina, pois eles eram
muito amigos e foi um choque muito grande pra ele quando se viu como o único
irmão sobrevivente e, ainda, com a responsabilidade de “tomar conta” das irmãs
e de mamys. Não reclamava e nem se lamentava perto de nós, mas sabíamos o
quanto sofria e sentia falta do nosso irmão. Ele já não era mais o mesmo,
por mais que tentasse, não víamos mais nosso irmão rindo feliz e, tentamos ajudá-lo
conversando, orientando, pedindo que se cuidasse. Até que um dia, passou muito
mal e precisou ser internado. Estava com água no pulmão, inchado e com a muita
dor no estômago. Ainda no hospital, foi orientado a procurar um cardiologista.
Foi ao médico que disse a ele que, provavelmente, teria que colocar alguma
válvula, mas teria que fazer alguns exames. Aí, eu me culpo e muito, pois
deveria ter ficado no pé dele até ele fazer os exames. Não sei o que passava
naquela cabecinha: medo de operar? Não sei. Sempre que a saudade do
meu outro irmão batia no peito , eu o abraçava bem apertado e dizia que ele me ajudava
a matar um pouco a danada, pois ele era bem parecido com o outro, forte,
alto e me abraçava apertado, gostoso e eu me sentia bem. De repente, num replay
horroroso, de madrugada, o maldito telefone toca. Ele tinha ido embora sem se
despedir, deixando um vazio que até hoje, nada preenche. O coração dói só em
lembrar, impossível segurar as lágrimas. Meu amigo e companheiro ,com apenas 44
anos, foi embora e nem sonhar com ele eu consigo. Creio que não esteja preparada
pra isso. A vida perdeu a graça. Choramos por meses e,
ainda hoje, quando eu e minhas irmãs estamos reunidas, é impossível não lembrar
e não chorar por ele.
Se nós, irmãs, nunca nos conformamos, imaginem minha mãe.
Não tinha dia que não chorava. Eu me sentia arrasada vendo mamys chorar.
Sentava perto dela, ouvia os desabafos, chorava com ela. E, nesse tempo, a
saúde dela, que já não era boa, foi ficando mais fragilizada. Com 82 anos,
lamentava porque achava que quem deveria ter ido embora ela era e não meu
irmão. Ela, que estava praticamente surda e cega por conta da diabetes, só foi
piorando. Porém, nunca, em momento algum, perdeu a fé em Deus. Sempre esperando
que a dor que sentia, um dia ia amenizar, mas deixava bem claro, nunca se
conformaria com a morte do filho caçula. Vivia sentadinha no sofá, arcadinha
como se levasse todos os problemas do mundo nas costas. Ficou bastante
dependente das filhas, muita coisa já não fazia mais sozinha e outras não quis
mais fazer. Muitas vezes, choramos juntas de saudades daquele irmão tão maravilhoso
e que não me abraçaria mais, não caminharia mais conosco (caminhávamos juntos de
vez em quando), não riríamos mais das abobrinhas que falávamos e tantas outras
coisas.
Mamys suportou essa dor durante um ano, além das
doenças que tinha e que se agravaram depois dos tristes acontecimentos. Um dia,
foi dar uma voltinha com minha irmã e voltou passando mal. Depois daquele dia, todos
os dias passava mal, minha irmã levava-a para o hospital, era medicada
e voltava feliz pra casa.
Até que numa dessas, passou tão mal, que o médico não deixou que ela voltasse
e, depois de feitos alguns exames, foi pra UTI com pneumonia, insuficiência
renal e respiratória. Tudo o que ela não queria: UTI. Tinha pavor, mas teve que
ir. Fizemos de tudo pra ela melhorar e ir para o quarto pra ficarmos junto dela
e ajudar a cuidar. Chegou a ir pro quarto e, passou tão mal que, no mesmo dia
precisou voltar pra UTI. Lá aconteceram algumas coisas que até nos confortava.
As visitas tinham que ser revesadas. Sempre que íamos vê-la, não sabíamos o que
íamos encontrar. Era uma agonia enorme. Algumas vezes, ela estava bem e
conversava, outras, mal falava. Foram quinze dias de agonia e aflição. Um dia,
o médico ligou chamando a família. Fomos muito aflitas e informadas de que
mamys tinha passado muito mal e foi preciso entubá-la. Cruel, muito cruel ver a mãe da gente naquele
estado. Entubada, em coma induzido, não sabíamos se ela ouvia o que falávamos,
mas não deixamos de conversar com ela. Nós oramos, cantamos hinos pra ela,
fizemos muito carinho e cafuné naquela cabecinha de cabelos branquinhos. Se
estava sentindo alguma dor, não sabemos. Os médicos disseram que não. Ela ficou
muito inchada e, não sei como aguentamos tudo aquilo. Só pode ter sido por amor
e pela força que Deus nos deu. No outro dia, o médico liberou a visita pra
família. Ela teria poucas horas. Aquele aparelho da UTI com aquele barulhinho
era terrível. Quando fui vê-la, percebi pelo aparelho que a pressão dela estava
caindo rápido demais, a glicemia estava altíssima e os batimentos cardíacos,
cada vez mais fracos. Nos despedimos dela pedindo que não se preocupasse com a
gente, que fosse ser feliz com os meninos e que abraçasse muito todos eles e
que, um dia, a gente se encontrará e seremos todos felizes. Assim, devagar,
minha mãezinha foi embora ser feliz com eles.
Com o coração estraçalhado de dor e saudade, nós seguimos em
frente. Agora somos em cinco. Cinco irmãs que ,quando se reúnem, sentem um
grande vazio, mas uma tenta dar força pra outra. Vamos à igreja e Deus renova
nossas forças e continuamos. Um dia de cada vez. Choramos sozinhas, choramos
juntas, ajudamos uma a outra, porque além dessas grandes dores, temos outros
problemas. Problemas com nossa família, nossos filhos, problemas de saúde e
outros como os de qualquer ser vivente. Após
dois meses da partida de minha mãe, ainda estamos meio perdidas na vida, órfãs
de pai, mãe e irmãos. Mas temos nossos
filhos, nossos netos e precisamos continuar e nunca, jamais esquecer o que
mamys disse, mesmo sofrendo na UTI: Peçam paz a Deus. Jesus, o Senhor da paz,
não nos desampara. Não deixem de servir a Deus, para que um dia, todos nos
encontremos no céu!
Planos para 2014? Não consigo planejar nada. Sinto apenas
uma grande dor quando vou à casa da minha véinha e ela não está mais lá naquele
sofá pra me perguntar se estou bem e eu responder que sim e ela me dizer que
vai indo até quando Deus quiser. E, assim, vou vivendo um dia de cada vez, sem
planos e sem sonhos, pelo menos por enquanto...
Desculpem o post super extenso que se tornou um desabafo. Eu precisava muito desabafar. Obrigada a você que passou por aqui e, com paciência, conseguiu ler tudo!
De coração, eu te desejo um 2014 cheio de paz, saúde e serenidade! Beijos carinhosos.